Ines pedrosa

ARTIGO Letrônica
v. 3, n. 1, p. 258-267 , julho 2010
Nas tuas mãos, de Inês Pedrosa: compreensão e recriação do passado
Cristiane Krumenauer1
As personagens Jenny (mãe) e Camila (filha), de “Nas Tuas Mãos”, romance de Inês Pedrosa, resgatam uma experiência traumática de suas vidas: o homossexualismo de António (esposo) e Pedro (pai). A obra desdobra-se em uma dupla experiência: uma referente à “vivida” pelas protagonistas, e outra referente àquela que está sendo narrada por elas, o que suscita o questionamento sobre a veracidade ou a invenção dos fatos. Contudo, antes de mais nada, é necessário observar que palavras, tais como “fatos”, “acontecimentos”, “passado” ou outras com certa semelhança semântica, referem-se exclusivamente ao universo ficcional das narradoras protagonistas, o que transforma a narrativa na ficção de uma ficção.
Na verdade, antiga é a preocupação em tentar estabelecer as diferenças entre memória e imaginação. O homem, de fato, sente um inevitável desejo pela verdade, seja ela a de outrem, seja a de si mesmo. A possibilidade de que possa ser ludibriado pela sua própria mente enquanto estiver nessa busca da verdade o deixa à mercê da sua própria história, fazendo-o se sentir incapaz de controlar não somente seu presente e futuro (o que já era de se prever), mas também seu passado – único e singular – onde se encontram suas emoções e o segredo de sua vida.
As frustrações das personagens ao perceberem que o tempo é irrepetitível e que algumas circunstâncias são inenarráveis, a ponto de muitas vezes provocarem o silêncio, amplia o desejo de alcançar a memória fiel do passado. . Contudo, quanto mais nos aprofundamos na leitura do romance, mais percebemos que todas as informações de que
1 Mestranda em Letras pela Uniritter, Especialista em Literatura Brasileira pela UFRGS.
Krumenauer, Cristiane
Letrônica, Porto Alegre v.3, n.1, p.259, jul. 2010. dispomos fazem parte de uma visão unilateral – o que não nos permite nunca o acesso à