independencia do brasil
DE HOMENS LIVRES POBRES E “DE COR”
NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
GLADYS SABINA RIBEIRO*
RESUMO: A Independência do Brasil não fez parte da “lógica natural” dos fatos, vinculada a uma crise do Sistema Colonial que colocava a Colônia versus a Metrópole. Após o grito do Ipiranga, a imprensa e as autoridades, tanto em suas cartas pessoais como em suas correspondências de trabalho, tocavam no assunto de forma cuidadosa. Tentavam convencer aqueles que eram simpatizantes da
“causa do Brasil” de que a independência como separação política era uma realidade a ser mantida. Um dos motivos alegados eram rebeliões das ruas de cidades como o Rio de Janeiro. As insurreições da população “de cor” da Corte não foram apenas uma ameaça constante, erigiram-se em realidade palpável nas fugas, nos ajuntamentos e nos tumultos, que não raro se transformaram em devassas e que pontilham a documentação da Polícia e do Ministério da Justiça. Os escravos e libertos participaram com igual intensidade da política do país e dos movimentos ocorridos. Fizeram uma leitura própria das idéias sobre a independência como autonomia, sobre a liberdade e sobre a libertação do jugo da reescravização, tentando colocá-las na prática em diferentes momentos.
Palavras-chave: Independência. Participação da população de cor.
Liberdade. Revoltas populares. Projeto político.
THE
WISH FOR FREEDOM AND THE PARTICIPATION OF FREE ,
POOR,
“ COLORED” MEN
IN THE I NDEPENDENCE OF
B RAZIL
ABSTRACT: The Independence of Brazil was not the consequence of a crisis that logically lead to a confrontation between the Colony and the Metropolis. After the “shout of independence” (“Grito
*
Departamento de História da Universidade Federal Fluminense ( UFF ). E-mail: gladysr@uol.com.br Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 58, p. 21-45, dezembro/2002
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do Ipiranga”), press and authorities only evoked that matter, both in their personal