Imperativo categórico
Um aluno perguntou a uma professora de filosofia se Kant havia sido feliz. Ela não soube responder, optando por lembrar que o filósofo alemão não se levantou do túmulo para dizer se foi feliz durante sua existência de cerca de oitenta anos no século XVIII e começo do XIX.
Mas se a felicidade galardoa aqueles que são aquinhoados pela fortuna ou mesmo pela saúde férrea, o pensador germânico certamente não foi feliz.
A Enciclopédia Universal Ilustrada Européia-Americana, em seu volume 28, página 3.329, elucida que é difícil encontrar um homem cuja vida é mais profundamente entrelaçada com sua própria filosofia. De constituição orgânica enfermiça, diz a Enciclopédia, Kant conseguiu dela triunfar. Mostrava tanta fé no valor do espírito que, nos últimos anos de sua vida, quando apenas era capaz de sustentar-se em pé e sentia grande peso sobre a cabeça, atribuía seus sofrimentos a circunstâncias exteriores e não à própria debilidade física.
Também foi obrigado a lutar contra a escassez de recursos financeiros, embora não tenha chegado a passar privações como as que afetaram Spinoza, por exemplo. Suas posses permitiram que vivesse com modéstia e, quanto à carreira acadêmica, só chegou à cátedra na
Universidade de Königsberg quando contava 45 anos de idade. Não foi um viajante como
Descartes ou Rousseau. Ficou enraizado em sua cidade natal.
É possível, diante de tamanha monotonia, que alguém seja feliz?
A disciplina com que enfrentou a vida leva-nos a concluir que foi um estóico. Mas o ideal do estoicismo é um ideal de apatia. A vida é apenas vivida, sem atropelos. O estóico não tem a pretensão de ser salvador do mundo -- talvez nem de si mesmo.
É claro que sua vida foi guiada por um condicionante, algo que norteou sua linha de conduta. Para alguns, esse condicionante são os mandamentos da Igreja, para outros a ideologia, para muitos a Bíblia ou qualquer outro livro sacro. O tótem kantiano, como diria
alguém