Imagens poéticas movimentos de alma em Clarice Hora da Estrela
Análise de Textos – Prof.ª Dr.ª Sara Almarza
Departamento de Teoria Literária e Literaturas
Universidade de Brasília – 2° semestre / 2003
Imagens poéticas movimentos de alma em Clarice
Hora da Estrela
INTRODUÇÃO
Diante da complexidade do romance A Hora da Estrela, eu gostaria inicialmente de recordar o trecho do texto Écrire de Marguerite Duras que transcreve o comentário de Lacan sobre seu livro Lol V. Stein: “Não deve saber que escreveu o que escreveu. Porque se perderia. E significaria a catástrofe.”(p.
22) – Para Duras esta frase se converteu em uma espécie de identidade essencial, um “direito de dizer”: – direito de dizer sem procurar dominar ou desvendar o significado (assim o interpretei).
Através dos textos Écrire e A Hora da Estrela pude perceber correspondências entre as duas autoras: na maneira de construir o texto, em suas reflexões sobre o ato de escrever, em certos posicionamentos diante da vida. Pergunto-me se
Clarice também não teria reivindicado par si aquele “direito de dizer”.
O direito de dizer possui um corolário (que vem me tranqüilizar nessa abordagem da Hora da Estrela) – o do “direito de ler”, sem ter necessariamente que compreender, só sentir.
“(...) meu material básico é a palavra. Assim é que esta história será feita de palavras que se agrupam em frases e destas se evola um sentido secreto que ultrapassa palavras e frases.” (A Hora da Estrela, p. 14)
“Porque escrevo? Antes de tudo porque captei o espírito da língua e assim às vezes a forma é que faz conteúdo.” (A Hora da Estrela, p. 18)
“(...) como escrevo? Verifico que escrevo de ouvido (...)” (A Hora da Estrela, p. 18)
“Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira.” (A Hora da Estrela, p. 13)
As palavras de Clarice, acima, são as de uma poetisa. A presença da lírica na
Hora da Estrela me parece evidente: na emoção da autora ao longo da obra, no trabalho com as palavras, na