ilha doutor moreau
Na introdução que escreveu para a nova edição do livro, Tavares oferece algumas chaves interpretativas: por exemplo, A Ilha do Dr. Moreau pode ser lido como uma crítica ao projeto colonialista europeu (com o plano de “elevar” os animais à condição humana visto como uma paródia cruel da “missão civilizatória” do homem branco). Também é possível ver o livro como uma crítica à religião: Moreau submete os animais “evoluídos” a um processo de hipnose e lavagem cerebral que os inculca com “A Lei”, uma série de normas de conduta que é recitada de modo obsessivo, reverenciada em rituais primitivos e que conta até mesmo com um sumo-sacerdote, o Mestre da Lei. No fim do livro, o narrador compara o “alto pensar”, uma forma pretensiosa de enunciar nonsense desenvolvida por um macaco manipulado por Moreau, à cantilena das igrejas.
No cinema, Moreau é consistentemente apresentado como um cientista arrogante, um homem que, assim como o Dr. Frankenstein dos filmes da Universal, quer saber “como é ser Deus”. A história, então, também pode ser lida como um ataque às pretensões arrogantes da ciência.
Mas a melhor chave talvez seja a do próprio Wells. Em um ensaio, H.G. Wells, Critic of Progress, do também escritor de ficção científica Jack Williamson, o autor é citado referindo-se ao livro como um “exercício de blasfêmia juvenil”. O alvo não é a