Ideologias populares
As formas políticas e ideológicas adotadas pelo nascente movimento operário não surgiram do nada, senão que resgataram e reformularam as tradições revolucionárias já existentes, especialmente aquelas das alas democráticas radicas do período de revoluções democráticas européias dos séculos precedentes. Assim, na Inglaterra, no momento mais radical da revolução inglesa do século XVII, uma maioria parlamentar chegou a apoiar os levellers (“igualitários” ou “niveladores”), os quais procuravam levar as idéias democráticas à sua conclusão lógica, atacando todos os privilégios e proclamando a terra como uma herança natural dos homens.
Os levellers se concentravam na reforma política: o socialismo implícito da sua doutrina ainda se exprimia em linguagem religiosa. Seus herdeiros radicais foram os diggers (“cavadores”), muito mais precisos em relação à sociedade que desejavam estabelecer e que, totalmente descrentes de uma ação política de tipo normal, só acreditavam na ação direta. Mas a revolução inglesa do século XVII conciliou-se finalmente com a monarquia, e eliminou as suas alas radicais.
Engels rastreou as origens desse radicalismo democrático nos primeiros grandes levantes europeus contra a aristocracia feudal, “na época da Reforma e das guerras camponesas na Alemanha, a tendência dos anabaptistas e de Thomas Münzer; na grande revolução inglesa, os levellers; e, na grande Revolução Francesa, Babeuf. E esses levantes revolucionários de uma classe incipiente são acompanhados, por sua vez, pelas correspondentes manifestações teóricas: nos séculos XVI e XVII, surgem as descrições utópicas de um regime ideal de sociedade; no século XVIII, teorias já declaradamente comunistas, como as de Morelly e Mably. A reivindicação da igualdade não se limitava aos direitos políticos, mas também às condições sociais de vida de cada indivíduo. Já não se tinha em mira abolir apenas os privilégios de classe, mas acabar com as próprias