Ideologia
Considere o seguinte paradoxo. A última década testemunhou um ressurgimento notável de movimentos ideológicos em todo o mundo. No Oriente Médio, o fundamentalismo islâmico emergiu como uma potente força política. No chamado Terceiro Mundo, e em certa região das Ilhas Britânicas, o nacionalismo revolucionário continua em luta com o poder imperialista. Em alguns estados pós-capitalistas do bloco oriental, um neostalinismo ainda obstinado mantém-se em combate contra um batalhão de forças oposicionistas. A nação capitalista mais poderosa da história foi arrebatada, de ponta a ponta, por um tipo particularmente nocivo de evangelismo cristão. No decorrer desse período, a Inglaterra vivenciou, ideologicamente falando, o mais agressivo e explícito regime da memória política viva, em uma sociedade que tradicionalmente prefere que seus valores dominantes permaneçam implícitos e oblíquos. Enquanto isso, em algum lugar da margem esquerda, proclama-se que o conceito de ideologia se encontra hoje obsoleto. Como explicar tal absurdo? Por que, em um mundo atormentado pelo conflito ideológico, a própria noção de ideologia evaporou-se, sem deixar vestígios, dos escritos pós-modernistas e pós-estruturalistas?1 A chave teórica para esse enigma é um dos assuntos que abordaremos neste livro. De modo muito sucinto, argumento aqui que três doutrinas essenciais do pensamento pós-modernista conspiraram para desacreditar o conceito clássico de ideologia. A primeira dessas doutrinas gira em torno da rejeição da noção de representação - na verdade, a rejeição de um modelo empírico de representação, no qual o bebê representacional foi displicentemente lançado fora junto com a água do banho empírica. A segunda diz respeito a um ceticismo epistemológico segundo o qual o próprio ato de identificar uma forma de consciência como ideológica implica alguma noção indefensável de verdade absoluta. Como a última idéia atrai poucos adeptos hoje em dia, acredita-se