Acredito que a época do predomínio da razão não tenha ainda chegado ao seu fim, mas muito recentemente o nosso ex-ministro da cultura Gilberto Gil, em um discurso feito em uma formalidade na França, disse que o iluminismo acabou, e que não deu certo. Eu concordo parcialmente com ele: acho que não deu certo mas ainda não acabou. Os verdadeiros detentores de cultura hoje não a obtém, mas herdam de seus antepassados, o que para ele quer dizer que a cultura, a razão, torna-se restrita como propriedade de uma família determinada, que a repassa (ainda ocorreria assim) de década a década, século a século, para a nova prole da mesma família. Os ideais iluministas que apregoaram que a educação, a razão, a cultura seria disponível para todos seria muito pouco aplicável no mundo de hoje. Mas a infraestrutura criada por séculos de iluminismo está ainda aí e sua influência se dá na vida contemporânea formalmente, marcadamente na organização social (em estames hierarquias), econômica (em estames ou em castas), política, (é formador da hierarquia dos órgãos do judiciário, legislativo e executivo e suas respectivas leis), e de todas as formas de organização social que alguém possa supor existir dentro da sociedade. O estado é iluminista, e não há como negar: é como se constitui. No entanto, enqüanto ideal, o iluminismo não existe de fato. Existe formalmente. Falhou em promover seus ideais básicos, que chegaram mesmo algum dia a suscitar a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Apóia-se, hoje, no que resta de uma população manipulável e vitimizada por falsas promessas e ilusões que lhe roubam a concretização de sua plenitude na sociedade: sua