Iara ilgenfritz: "as drogas e o novo perfil das mulheres prisioneiras no estado do rio de janeiro
http://www.mamacoca.org/FSMT_sept_2003/pt/doc/ilgenfritz...
AS DROGAS E O NOVO PERFIL DAS MULHERES
PRISIONEIRAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Iara Ilgenfritz
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“Entrei no crime (tráfico) porque é adrenalina pura.”
A. 26 anos, branca, traficante internacional, foi presa com o marido, que acabou sendo assassinado pela policia. Este texto é a síntese de uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro, entre os anos 1999 e 2000, junto às mulheres encarceradas no sistema penitenciário. O trabalho consistiu, entre outras coisas, num ensaio para chamar a atenção dos formuladores de políticas públicas para as especificidades da população prisional feminina, que, por representar uma parcela muito reduzida do contingente de presos, é vista pela literatura e
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pelos governos como acessória
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A idéia, desde o início, foi a de realizar um mapeamento das condições em que se encontram as mulheres presas e, sobretudo, de tentar identificar situações de violência familiar e institucional pelas quais essas mulheres têm passado. Essa preocupação foi norteada pela hipótese de que existe uma relação, se não de causa e efeito, mas no mínimo de reprodução e continuidade, entre a participação em atividades criminosas e trajetórias de violências experimentadas na infância, adolescência e/ou fase adulta. Por outro lado, se pretendeu iluminar o cenário obscuro e perverso da violência exercida no interior das instituições que, como é sabido, estimulam a permanência no crime.
A metodologia adotada privilegiou o contato direto com a população carcerária pela aplicação de um questionário individual abrangente, realizado em espaço privado, com uma duração média de 50 minutos.
Esse tempo foi muito difícil de se estabelecer, pois as questões perguntadas abrangeram as histórias de vidas dessas mulheres, fazendo-as recordar situações duras por que passaram, o que as levava à emoção e ao
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choro
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