Hume e Popper
Duas Soluções de um Mesmo Problema
Edson José Benevides Albuquerque
1. Introdução
1.1. Há entre o pensamento de David Hume e o de Karl Popper uma ligação, que este último mesmo se encarregou de estabelecer ao enfrentar e, segundo ele, resolver com mais sucesso do que Hume a questão da indução. Tenhamos em mente, antes de tudo que para Popper existe, pelo menos, um problema filosófico genuíno e que ele chama de problema cosmológico ou o problema de compreender o mundo, neste incluindo-nos a nós e nossos conhecimentos (Cf. LPC p. 535). Assim, a preocupação que, segundo Popper, deve dominar a filosofia e a ciência é a procura da verdade. (Cf. CO p. 51), entendendo que "a verdade é a correspondência com os fatos (com a realidade) (sic); ou, mais precisamente, que uma teoria é verdadeira, se e apenas se corresponder aos fatos". (CO p. 51)
Essa preocupação já se acha presente desde o início do seu trabalho de pensador, quando, conforme ele próprio afirma, resolve importante problema filosófico: o problema da indução ou o problema de Hume.(Cf. CO p. 13; LPC p. 28)
1.2. Consideremos que o ambiente científico e filosófico da época, em que foi publicada a Lógica 1 de Popper, era largamente influenciado pelo empirismo e pelo positivismo lógico. (Cf. KRAFT 1986, p. 11). Mesmo sem assumir uma estrita observância do primeiro e mantendo claras divergências com o segundo, a citada predominância de ambos explica que Popper os tenha como referência. Ao reformular o problema da indução comenta que a solução, que para este propõe, "está de acordo com a seguinte forma, um tanto fraca, do princípio do empirismo: só a experiência nos pode ajudar a decidir sobre a verdade ou falsidade de asserções factuais." (CO p.23). Para a visão epistemológica dominante, à qual inicialmente se reporta, o único acesso ao real ou, ao menos, o acesso por excelência e a base para justificar a verdade dos enunciados é o empírico, a experiência.
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