Humanos Criados Como Animais Cora O Selvagem Fl Via Ribeiro
Isolados na floresta, abandonados pela família ou adotados por animais: conheça os incríveis casos decrianças que cresceram longe de outros seres humanos e, depois, tiveram que se reintegrar à sociedade
Flávia Ribeiro | 01/02/2006 00h00
De acordo com a lenda, os gêmeos Rômulo e Remo, filhos de uma mortal com o deus Marte, foram abandonados em um cesto no rio Tibre. Ainda bebês, tinham pouquíssimas chances de sobreviver. Mas uma loba os resgatou, protegeu e amamentou, permitindo que crescessem saudáveis e fundassem a cidade de Roma em 753 a.C. Sem dúvida, um final feliz. Na vida real, entretanto, crianças criadas longe do convívio humano nunca fundaram cidades. Esses meninos e meninas, encontrados em florestas, estradas ou campos, andam de quatro e nus – no máximo, vestidos com trapos. Em vez de falar, grunhem. Na hora de comer, gostam de carne crua, frutas e raízes silvestres. E, mais do que tudo, intrigam profundamente os estudiosos.
O primeiro registro de uma criança selvagem data de 1344: um menino-lobo achado na região de Hesse, na Alemanha, citado pelo filósofo francês Jean-Jacques Rousseau no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Mas o fenômeno tem ocorrências recentes. Um exemplo é o russo Andrei Tolstyk, abandonado aos 3 meses e criado por cães. Foi descoberto numa parte remota da Sibéria em 2004, aos 7 anos, andando de quatro, latindo e cheirando tudo o que via.
Cada caso novo de criança selvagem bota um pedaço de lenha na fogueira de uma das mais persistentes questões da ciência: existe uma natureza humana? “O homem não nasce humano. Ele possui, sim, a capacidade de tornar-se humano. Aprender a falar uma língua, por exemplo, é uma exclusividade humana que só se realiza com o contato com outros que falem”, diz Luci Banks-Leite, professora de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nem mesmo a postura bípede se desenvolve se alguém não der a mão antes.”