HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA
CRÍTICA DE MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO*
André Botelho
Para Nísia
Em Homens livres na ordem escravocrata, Maria Sylvia de
Carvalho Franco investiga as relações entre homens livres no Vale do Paraíba, ao longo do século XIX, com o objetivo principal de mostrar como, no Brasil, se constituiu um princípio mais geral de coordenação das relações sociais, que chama de “dominação pessoal”, desdobrada no Estado e nas práticas de mercado. Com sua pesquisa, a autora não intentou, porém, caracterizar ou qualificar esse tipo de associação moral que ligava homens livres pobres e fazendeiros como marca de uma sociedade tradicional, ou atrasada, ou ainda incompatível com os processos de mudança social e o dinamismo que o capitalismo ia assumindo também entre nós. Em verdade, toda argumentação do livro visa, ao contrário, desmontar essa visão sobre a sociedade brasileira.
Este estudo é parte de pesquisas mais amplas ainda em curso, financiadas pelo
CNPq e pela Faperj, que também vem envolvendo orientações acadêmicas. Agradeço a Maurício Hoelz Veiga Jr., Paloma Malaguti e Pedro Cazes. O estudo foi apresentado no GT Pensamento social brasileiro, durante o 36º Encontro Anual da
Anpocs (2012), a cujos membros também sou grato.
*
Lua Nova, São Paulo, 90: 331-366, 2013
328-403_13092-LuaNova90_af4.indd 331
12/5/13 4:43 PM
Teoria e história na sociologia brasileira: a crítica de Maria Sylvia de Carvalho Franco
332
Visão persistente e que, aos olhos da autora, se renovava com a autoridade das ciências sociais, especialmente a partir da adoção de paradigmas do funcionalismo norte-americano, em diferentes perspectivas, sobre a modernização que a autora acaba reunindo sob a designação de “sociologias do desenvolvimento”. Maria Sylvia de Carvalho Franco tem em vista, portanto, a então influente teoria da modernização de
Talcott Parsons, mas também a tradução da sociologia weberiana a partir desta