homem bicentenário trecho
435 palavras
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chamá-lo de George ─ mas a mãe continuou sendo Filhinha. Noutra ocasião, quando George apareceu sozinho, foi para avisar que o avô estava morrendo. Filhinha já se encontrava ao lado do agonizante, mas ele pedia também a presença de Andrew. O patrão, apesar de incapaz de fazer movimentos, continuava com a voz bem forte. Esforçou-se para erguer a mão. ─ Andrew ─ disse ─, Andrew... Não preciso de ajuda, George. Estou apenas morrendo; não sou nenhum aleijado. Andrew, que bom que você está livre. Só queria te dizer isso. Andrew ficou sem saber o que responder. Nunca havia estado diante de nenhum agonizante, mas sabia que era assim que as criaturas humanas paravam de funcionar. Uma destruição involuntária, irreversível, e Andrew ignorava as palavras que se riam apropriadas. Se resignou a permanecer de pé, em silêncio e absolutamente imóvel. Quando tudo terminou, Filhinha se virou para ele. ─ Talvez ele não tenha se mostrado amável com você perto do fim, Andrew, mas já estava velho, compreende? E ficou muito magoado quando soube que você queria ficar livre. Então Andrew encontrou as palavras. ─ Eu nunca teria ficado livre se não fosse ele, Filhinha. Foi só depois da morte do patrão que Andrew começou a usar roupas. Primeiro um par de calças velhas, que George lhe tinha dado. George já estava casado e era advogado. Entrou para a firma de Feingold. Fazia muito tempo que o velho Feingold havia morrido mas a filha prosseguira com a banca. Com o tempo, o nome mudou para Feingold & Martin. E assim continuou, mesmo quando a filha se aposentou e não foi substituída por nenhum outro membro da família. Na época em que Andrew começou a andar vestido, o nome de Martin acabava de ser acrescentado à firma. George procurou não sorrir diante da primeira tentativa de Andrew para vestir as calças, mas o olhar do robô percebeu claramente o esforço que o amigo teve de fazer para disfarçar. George mostrou-lhe como controlar a carga estática para abrir a braguilha e enfiar a calça pelas