História serial e história quantitativa
A História Serial está entre algumas das modalidades historiográficas mais emblemáticas do último século, uma vez que contribuiu para a constituição de um influente paradigma que praticamente hegemoniza todo um setor da historiografia francesa entre os anos 1940 e 1970. Quando surgiu, a História Serial chegou a ser vista como uma revolução nas relações do historiador com as suas fontes, e alguns chegaram mesmo a pensar que este tipo de historiografia substituiria de todo o antigo fazer histórico tradicional. Ao invés das fontes habituais que eram sempre tomadas para uma abordagem qualitativa, a chamada História Serial introduziu nas proximidades dos meados do século XX uma perspectiva inteiramente nova: tratava-se de constituir “séries” de fontes e de abordá-las de acordo com técnicas igualmente inéditas.
Se pensarmos em termos de constituição de um recorte de pesquisa pelo historiador, podemos dizer que, com a História Serial, recorta-se o objeto não propriamente em função de uma determinada realidade histórico-social concernente a uma delimitação espaço-temporal preestabelecida, mas mais precisamente em função de uma determinada série de fontes ou de materiais que é constituída precisamente pelo historiador. Ainda que se possa pensar em outras possibilidades de utilização historiográfica da serialização, este foi o modelo que começou a emergir a partir de meados do século XX, tendo como ponto de partida os trabalhos pioneiros de Ernst Labrousse sobre "Os preços no Antigo Regime", e como marco mais significativo a célebre obra de Pierre Chaunu sobre 'Sevilha e o Atlântico' (1954).
É importante distinguir a História Serial de uma outra modalidade que, por vezes, apresenta-sa como sua co-irmã, mas que se refere a outro critério: a História Quantitativa. História Serial e História Quantitativa podem aparecer conectadas, mas é possível perfeitamente pensar trabalhos de História Serial sem a preocupação quantitativa