HISTÓRIA ORAL: POSSIBILIDADES E LIMITES
A utilização de fontes orais não é um de fenômeno recente. Na verdade, os procedimentos de pesquisa baseados na história oral - no caso, entrevistas, são bastante antigos. Heródoto, já no século V a.C., escreveu: “Desejoso de saber, interrogo”. Há registros de que as fontes orais foram utilizadas no século XVI, por Bernardino de Sahagún, que, querendo compreender os povos colonizados pelos espanhóis, os entrevistou. Jules Michelet (1798-1874), no século XVIII, também fez uma pesquisa de opinião para saber o que os franceses pensavam de sua própria revolução.
A partir do século XVIII, quando a história obteve o status de ciência, a utilização de relatos orais foi colocada sob suspeição. Os relatos orais deixaram de ser considerados como fontes confiáveis para a pesquisa histórica. Essa concepção estava estreitamente ligada ao ideário iluminista de fins de século XVIII, que expressava uma confiança extremada na razão e disseminava a crença cientificista. Esse processo de desqualificação continuou no século XIX, quando se deu a institucionalização da história como disciplina universitária, bem como a profissionalização dos historiadores. Nessa época, argumentava-se que o historiador deveria se distanciar do seu objeto de pesquisa, não devendo fazer uso de relatos parciais ou muito próximos cronologicamente de eventos históricos – esse distanciamento do objeto é que garantiria a objetividade do conhecimento histórico.2
A história metódica e factual, focada no estudo de “grandes eventos” e das “grandes personalidades” predominou até a primeira metade do século XIX. As críticas a esse tipo de abordagem tiveram como um grande marco referencial o surgimento da corrente historiográfica francesa dos Annales, na década de 1920. Historiadores, como Marc Bloch e Lucien Febvre, apresentaram como nova proposta a diversificação dos temas, voltados às “pessoas comuns, bem como a relativização da importância de “marcos políticos”