História natural da doença
Delsio Natal & Marcos Obara
Partindo-se dos temas já explanados e admitindo-se que a doença é conseqüência da ação de fatores determinantes, é razoável reconhecer, que quando esses fatores atuam por meio das redes multicausais, a doença deva se expressar. Se nas leituras anteriores a preocupação estava circunscrita a entender melhor a causalidade, aqui a abordagem desenrolar-se-á, muito mais em torno da temática do efeito, o qual se expressa através do processo, que pode culminar com a doença em si. Em que se resume então a doença? Como ela se inicia, evolui, manifesta-se, provoca seus danos e desaparece? A ciência epidemiológica ou mais amplamente a Saúde Coletiva se preocupa com a doença no início de sua gênese, muito antes de sua própria configuração. Aqui fica marcada grande diferença dessas áreas, quando comparadas com a clínica, cujo centro de interesse recai geralmente a partir do momento que o agravo se manifesta. Atesta-se que para um fator possuir natureza "causal" necessita atuar temporalmente antes que a doença apareça. Em outras palavras, se a doença surgir antes da atuação de um fator suspeito, tal fator não é "causal". Imaginando-se uma doença comum em uma dada área, os casos aparecem clinicamente, as manifestações progridem e finalmente vem a cura, a seqüela, a morte ou a emigração e os casos deixam de existir naquela população. Quando se descreve a seqüência de acontecimentos, procurando cobrir desde o período anterior a seu início até seu desfecho, está se narrando a história natural da doença. O que se pretende deixar claro é que toda doença tem sua dinâmica de gênese e desaparecimento. Usualmente não há simultaneidade no surgimento dos casos, cada um se configurando em um devido tempo. Embora seja evidente que a doença é um processo dinâmico de caráter populacional, os casos serão aqui considerados individualmente para facilitar o entendimento da história natural. Será feito assim,