História das mu
IDENTIDADE DE GÊNERO e SEXUALIDADE
Miriam Pillar Grossi
Desde 1989, venho ministrando a disciplina de Antropologia da Mulher e das
Relações de Gênero no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social e a de
Relações de Gênero no curso de Ciências Sociais da UFSC. Com base nessa experiência, portanto, tenho refletido, com várias gerações de alunos, sobre a abrangência da categoria gênero para as Ciências Sociais contemporâneas1. Este texto busca preencher um vazio na bibliografia em português sobre o conceito e sobre os diferentes usos do gênero e é, de alguma forma, a continuação da reflexão iniciada num texto intitulado “O conceito de gênero: um novo coração de mãe nos estudos sobre mulher”, escrito com o grupo Em Canto e apresentado na ANPOCS de 1989. Passados quase dez anos desta primeira reflexão teórica sobre o uso do conceito de gênero no Brasil, busquei, aqui, definir a problemática da identidade de gênero a partir de várias instâncias: a aquisição da identidade de gênero primária, o aprendizado dos papéis sexuais, o vasto campo da sexualidade e as novas questões referentes à reprodução humana. Em todo o texto, busco desconstruir o senso comum ocidental que considera que a identidade de gênero é marcada pela opção sexual, inclusive com o intuito de mostrar como as práticas homoeróticas não produzem um terceiro gênero (nem masculino, nem feminino), tampouco
“distúrbios da identidade de gênero”, como afirmam alguns psicólogos e educadores que lidam com indivíduos com experiências não exclusivamente heterossexuais.
I. Das lutas libertárias dos anos 60 aos estudos de gênero dos anos 90
Os estudos de gênero são uma das consequências das lutas libertárias dos anos 60,
Agradeço particularmente à minha ex-bolsista e orientanda Angela Célia Sacchi, com quem dialoguei intensamente durante vários anos, e também aos alunos de diferentes cursos de gênero que ministrei em diferentes instituições. Sou grata também aos convites de Elisete