História comparativa
Por uma ciência política histórico-interpretativa*
Renato Perissinotto
Apresentação
Em uma afirmação bastante conhecida, o antropólogo Guy E. Swanson diz que “pensar sem comparar é impensável”, pois, “uma vez ausente a comparação, estarão ausentes também a pesquisa e o pensamento científicos” (Swanson, 1973, p.
145). Não iria tão longe. Há certamente formas de fazer ciência que não invocam diretamente o procedimento comparativo, como os trabalhos de pesquisa essencialmente descritivos e limitados a um
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Este texto é fruto parcial de pesquisa realizada durante estágio de pós-doutorado no Latin American Centre da University of Oxford, entre 2011 e 2012, financiado pelo CNPq. O autor agradece aos colegas Marcio
Sergio Batista de Oliveira e Paolo Ricci e aos pareceristas anônimos da Revista Brasileira de Ciências Sociais pelos comentários.
Artigo recebido em 12/08/2011
Aprovado em 03/04/2013
único caso que, embora mais modestos do ponto de vista de seu alcance teórico, contribuem para o avanço do conhecimento por meio da observação e da interpretação rigorosas dos fatos. Não há dúvida, porém, de que o procedimento comparativo é o que produz explicações mais robustas do ponto de vista científico, pois fornece ao pesquisador vários casos estratégicos a partir dos quais ele pode controlar a relação entre as variáveis analisadas.
Este texto pretende responder três questões: 1) como definir exatamente o procedimento comparativo; 2) como operacionalizá-lo; 3) seria a busca de relações de causalidade o fim único da pesquisa em ciência política ou seria necessário ainda complementá-la com um procedimento interpretativo?
Na seção inicial, apresentamos o que entendemos por comparação e discutimos as possibilidades e os limites de sua aplicação nas ciências sociais; em seguida, apontamos as vantagens teóricas da análise comparativa de poucos casos baseada em uma
RBCS Vol. 28 n° 83 outubro/2013
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