historia
Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do Liberalismo que sopravam fortemente na França revolucionária e dela irradiavam para o restante continente. Na verdade, o príncipe D. João (futuro D. João VI) , que o estado de loucura de sua mãe, D. Maria I, fizera regente, governava um reino profundamente implantado no Antigo Regime. As atividades primárias predominavam. Pesadas obrigações senhoriais condenavam o campesinato à miséria. O Absolutismo estava para durar, tanto mais quanto se escudava na ação repressiva da Inquisição, da Real Mesa Censória e da Intendência-Geral da Polícia.
Todavia, nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial, ligada aos tráficos com o Brasil, ansiava pela mudança. O mesmo se podia dizer de uma franja de intelectuais frequentadores de cafés e botequins. Uns e outros constituíam terreno fértil para a propagação dos ideais de Liberdade, de Igualdade e de Fraternidade provenientes da França. Muitos deles filiavam-se em lojas maçónicas e pugnavam pelo exercício da liberdade política e económica, pelo fim dos privilégios sociais da nobreza e do clero, dos constrangimentos religiosos, do fanatismo, em suma, da tirania.
Uma conjuntura favorável, ditada por acontecimentos tão extraordinários quanto inesperados, iria lançar em breve o reino na senda das transformações liberais, permitindo materializar as aspirações de mudança. Referimo-nos, concretamente ao impacto que as Invasões Francesas tiveram em Portugal.
As invasões francesas e a dominação inglesa em Portugal
Decidido a abater o poderio da Inglaterra, Napoleão Bonaparte decretou em finais de 1806, o Bloqueio Continental, nos termos do qual nenhuma nação europeia deveria comerciar com as Ilhas Britânicas. Fiel à sua velha aliada mas não sem algumas hesitações e ambiguidades, Portugal acabou por não se subordinar aos ditames do Bloqueio. A decisão custou-lhe de 1807 a 1811 o flagelo de três invasões napoleónicas,