Historia
No final do século XIX as elites paulistas começaram a deixar suas fazendas no interior do estado para se instalar nas cidades. Enriquecidas pela exportação do café, escolheram especialmente a capital como destino, em um momento em que São Paulo vivia uma verdadeira explosão urbana. Esses novos moradores iniciaram uma remodelação do espaço, adaptando a cidade aos novos gostos e ao ideário dessas elites, detentoras do poder político estadual e nacional. Essa transformação gerou uma São Paulo que exibiu, na organização dos espaços e na forma de ocupação da cena urbana, toda a complexidade de um crescimento extremamente brusco e veloz, todos os conflitos sociais que a atravessam e toda a diversidade de sua população. A metrópole que surgiu dessa metamorfose passou a ser marcada por grandes contrastes, uma cidade de inúmeras fronteiras.
A primeira delas foi a que opôs modernidade e tradição. A explosão paulistana veio acompanhada de uma imensa aspiração de modernidade por parte das elites, otimistas com o potencial de progresso da nova metrópole que nascia. Pretendendo apagar os traços que lembrassem o passado pacato e provinciano, os ritmos e as paisagens da antiga São Paulo, a nova lógica queria aproximar a cidade de metrópoles como Nova York, Chicago, Londres e Paris e torná-la o novo coração econômico do país. As demolições, as construções e as transformações foram efetivamente criando um novo cenário: prédios mais altos, trilhos de bondes seguindo a eletrificação, ruas mais largas, parques e praças em estilo art-nouveau, viadutos de metal e arquitetura eclética, composta de elementos neoclássicos, empregando novas técnicas e materiais de construção.
O processo, contudo, é complexo. Ritmos e estruturas urbanas não se apagam num piscar de olhos. A velocidade do crescimento e a falta de planejamento geraram um descompasso visível entre a urbanização e as exigências criadas pela explosão demográfica: entre 1910 e 1920, a população