Historia do cotidiano
Os historiadores têm dedicado poucas reflexões ao tema do seu cotidiano e de seu lugar na historia.
Del Priore, ao apresentar um quadro geral a respeito da “História do Cotidiano e da Vida Privada”, depara-se com algumas questões que devem ser pensadas por aqueles que pretendem trabalhar com o Cotidiano da História: é possível historicizar a noção de vida cotidiana? Essa noção de cotidiano valeria para todas as épocas da História?
De acordo com a autora, no sentido comum, cotidiano seria aquela esfera privada da vida humana onde ocorre a permanência e conservação de práticas culturais e rituais, sendo, portanto, reprodutiva, excluindo-se os campos político, econômico e social. Estes, em oposição, fariam parte justamente da esfera produtiva, a vida pública, o lugar “onde a História acontece”. Essa dicotomização da vida humana em vida pública e vida privada, segundo a autora, emergiu no século XVIII no seio da classe burguesa. Houve então, uma profunda transformação nas relações sociais, mudança sentida até mesmo na arquitetura das casas que passaram a ser construídas de maneira a separar o local de produção da vida material do local de reprodução da existência. Por esse motivo, alguns historiadores chegaram a cogitar a impossibilidade de se trabalhar com a noção de vida cotidiana em períodos anteriores ao século XVIII
Seria a partir deste período que ocorreria o fenômeno denominado por Sennett como “o declínio do homem público”, ou seja, com o advento da sociedade industrial, essa esfera privada da vida humana ganharia uma importância nunca vista antes na História, principalmente se comparada à importância da vida pública para cidadãos gregos e romanos.
Contudo, ao procurar delinear a história do conceito, a autora nos remete a Heródoto, mostrando-nos que a vida privada não é um campo novo de interesse. O historiador grego já descrevia em sua época, detalhes dos costumes de povos inimigos, buscando explicar o conflito