historia de Santana de Parnaiba
No bucólico arraial que volteia uma colina à margem esquerda do rio Tietê, os bandeirantes preparavam, nos idos do século 17, suas expedições: arrobas de pólvora e balame, machados, redes de embira, batelões, bateias, trabucos e, que mais?, “Sapatões pra duzentas estradas, chapelão pra dez anos de sol e de chuva”, nos cálculos do poeta Cassiano Ricardo (1895-1974).
As Bandeiras, qual muralhas de gente, se embrenhavam sertão adentro para ampliar nossa terra além do Tratado de Tordesilhas, dando forma de harpa ao Brasil, segundo os geógrafos poetas. Santana de Parnaíba, tão pertinho de São Paulo (35 quilômetros), hoje não é mais rodeada pelas águas claras onde banhavam-se perdizes. A temida Cachoeira do Inferno, pelo redemoinhar de suas águas mata-cavalo, jaz no fundo da represa, construída no início do século passado pela empresa canadense Light.
Nessa garganta do Tietê, os batelões precisavam deixar o rio e seguir por terra, imagem que o escultor Victor Brecheret (1895-1955) escolheu para representar o Monumento dos Bandeirantes, no Ibirapuera, em São Paulo. Desde o naturalista Saint Hilaire (1779-1853), tenta-se explicar a façanha desses nossos heróis geográficos. “Quando Raposo regressa de sua viagem de 30 anos e sua família não o reconhece, que é isso senão uma página de Homero narrando a volta de Ulisses?” O poeta Cassiano procura apenas reconquistar o espírito da nossa nacionalidade: “Quem caminha e leva uma fronteira nos pés, caminha dividido: de um lado é herói, do outro lado é bandido”.
Bandeirantes e imperadores
Santana de Parnaíba une em seu nome o tupi, a dar a localização exata e terrena – Pan-nei-i-o, “lugar de muitas ilhas” –, e a devoção a Sant’Anna de sua primeira moradora, Suzana Dias. Ela e seu marido, Manoel Fernandes, donos de uma fazenda que originou a cidade, simbolizavam a mistura de raças: ele, branco e português; ela, mameluca descendente dos índios guaianazes.
Foram pais do bandeirante André