historia de Paulista
O QUILOMBO DO CATUCÁ EM PERNAMBUCO
Marcus Joaquim M. de Carvalho*
Esta é uma pequena História do quilombo do
Catucá. Ele foi um resultado da luta dos escravos pela liberdade e um subproduto do caos político em
Pernambuco, entre 1817 e o final da década de 1830. Morando muito perto do Recife, os quilombolas se tratavam mutuamente por malungos (companheiros da viagem da África) e elaboraram uma série de estratégias de sobrevivência, que incluíam a cooperaçãao da população negra livre e dos escravos dos engenhos próximos.
A historiografia sobre a resistência escrava no Brasil teve um grande avanço nos últimos anos, quando os historiadores se debruçaram sobre diferentes aspectos da protesto escravo no país.
Nesse artigo examinaremos um quilombo que já foi mencionado aqui e ali nos trabalhos clássicos de Gilberto Freyre, Roger Bastide, Richard
Price e mais recentemente Stuart Schwartz. Embora essas referências sejam indicadores da importância do estudo do quilombo do Catucá, ainda há muito o que se fazer para conhecer melhor o assunto, uma vez que esses autores basearam-se no trabalho do historiador oitocentista
Pereira de Costa para fazerem suas ilações sobre o Catucá. Nas páginas seguintes buscaremos cobrir essa enorme lacuna no estudo da resistência do negro no Brasil, buscando levantar a vida e morte do quilombo pernambucano mais importante do século passado.
Como fenômeno histórico, os quilombos são parte de um conjunto mais largo de estratégias de sobrevivência e resistência escrava. Por essa razão eles são fenômenos dinâmicos que mudam com o tempo.
No alvorecer do século dezenove, a província do quilombo do Catucá era bem diferente da antiga capitania do quilombo dos Palmares. Os
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Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Pemambuco.
Caderno CRH, n. 15, p. 5-28, jul./dez., 1991
6 Marcus Joaquim M. de Carvalho mais de cem anos que separam aqueles dois momentos viram a consolidação da