historia da mulher
____________________
ESCREVER UMA HISTÓRIA DAS
MULHERES:
relato de uma experiência*
Michelle Perrot**
Escrever uma história das mulheres é um empreendimento relativamente novo e revelador de uma profunda transformação: está vinculado estreitamente à concepção de que as mulheres têm uma história e não são apenas destinadas à reprodução, que elas são agentes históricos e possuem uma historicidade relativa às ações cotidianas, uma historicidade das relações entre os sexos. Escrever tal história significa levá-la a sério, querer superar o espinhoso problema das fontes ("Não se sabe nada das mulheres", diz-se em tom de desculpa). Também significa criticar a própria estrutura de um relato apresentado como universal, nas próprias palavras que o constituem, não somente para explicitar os vazios e os elos ausentes, mas para sugerir uma outra leitura possível. Ambiciosa, com certeza, esta pesquisa tem se desenvolvido no mundo ocidental há vinte anos. Com efeito, há uma teoria e uma historiografia da história das mulheres a partir das quais se pode elaborar os primeiros balanços críticos e se questionar sobre o sentido, as dificuldades, os efeitos destas pesquisas. Seria especialmente interessante elaborá-los, nos diversos espaços nacionais, com um espírito comparativo e aberto.
Gostaria de fazer isto, aqui, me baseando na experiência francesa, sem pretensões de abraçá-la na sua totalidade, isto é,
* Conferência proferida no Núcleo de Estudos de Gênero Pagu em 06 de maio de 1994 (Unicamp).
Tradução de Ricardo Augusto Vieira - Mestrando em Filosofia, UNICAMP.
** Professora na Universidade Paris VII.
cadernos pagu (4) 1995: pp. 9-28.
Escrever uma história das mulheres
me apoiando mais especificamente na Histoire des Femmes en
Occident.
Embora esta obra tenha sido traduzida em muitas outras línguas e com versões até bastante diferenciadas (por exemplo, a espanhola), levarei em conta apenas