Historia da Criança no Brasil
PRIORE, M. O papel branco, a infância e os jesuítas na colônia. In: PRIORE, Mary Del. (org.) História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991, p. 10-25.
Os modelos ideológicos sobre a criança disseminados pela Igreja foram responsáveis pela modificação na forma dos adultos conceber e acompanhar esse período do desenvolvimento humano. As duas representações eram: a da criança mística, “exaltando aquelas cuja fé as ajudava a suportar a dor e a agonia física” (p. 12), atentando para as qualidades da criança; e a da criança que imita Jesus, enfatizando características como doçura, inocência e afabilidade, com as quais seria possível converter os que as cercassem – a criança refletia a imagem de Jesus através do seu olhar, perfume, gestos.
Dessa forma, o objetivo dessa ideologia, bem como do trabalho de cristianização com as crianças indígenas, era o de converter e civilizar os índios adultos, pois os jesuítas acreditavam que seria mais fácil partir do ensinamento aos pequenos, já que concebiam-nas como “papéis em branco” nas quais poderiam “escrever” o que quisessem.
Os jesuítas pregavam que a educação – seja a dos pais ou a docente – deveria ser baseada na disciplina e no castigo, punindo com rigor os atos imorais e indisciplinados (para eles uma educação rígida era prova de amor para com as crianças).
Por meio das normas rígidas de submissão da criança, os jesuítas ajudaram na transformação da escola da Idade Media para o colégio dos tempos modernos, substituindo o regime existente por uma formação social e moral rigidamente hierarquizada, evidenciando para a preocupação com um método direcionado à infância. Áries aponta que foram os jesuítas os primeiros a despontar para o conhecimento da psicologia infantil, objetivando por um lado, a realização da tarefa de transformar aquele povo “diabolizado”, e por outro (e para atingir o primeiro) iniciar essa missão por meio das crianças, para que crescessem de forma “correta”. Desse modo,