HISTERIA
Para Charcot, a particularidade da histeria era consequência da lesão, provocada por um trauma mecânico, e a hipnose lhe servia para aprofundar sua pesquisa. A história da medicina no século XIX concebe, inicialmente, a histeria não como um problema médico, mas moral. A histeria, com seus sintomas clássicos, não é propriamente uma doença, nos exames feitos não tem nenhum índice de lesão ou inflamação do sistema nervoso, trata-se, muito mais que algum tipo de teatro ou fingimento, cujo objetivo é chamar a atenção, ou um pretexto para fugir da realidade e da responsabilidade da vida, o que não se baseia em um problema médico, mas sim moral. Porém, no decorrer deste século, algumas mudança fundamentais tornaram possível considerar a histeria como um problema médico. “Em 1850, Paul Briquet (1796-1881) publica seu Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, em que define a histeria como “uma neurose do encéfalo cujos fenômenos aparentes consistem principalmente na perturbação dos atos vitais que servem à manifestação das sensações afetivas e das paixões” (Ellenberger, 1994
[1970], p. 174).” Essa definição parece afastar aquilo que a história antiga da medicina vinha considerando como a base da histeria, ou seja, como sendo causada por desejos sexuais frustrados. Ao final do século XIX, encontramos também a defesa da hipótese de que a histeria é causada por uma cisão na personalidade do paciente.
Charcot se recusa a reduzir a histeria a uma neurose sexual, mesmo reconhecendo que o componente sexual na vida de seus pacientes histéricos tivesse um grande papel e forte influência sobre eles. Lembrando que na medicina desta época, os médicos tinham bastante visibilidade sobre os fenômenos ocorridos, ou seja, para que uma clínica fosse possível, era necessário que os sintomas pudessem ser observáveis e agrupados em medidas patológicas. Foi com Charcot que Freud