Hist ria Chapeuzinho Vermelho
Lembro bem daquela tarde primaveril. Tinha acabado de colocar meu filhote caçula para dormir quando resolvi ir até à Floresta Negra caçar uma lebre para o jantar. Estava fazendo um calor insuportável, o que me fez ir até o rio refrescar-me antes de qualquer coisa.
Já saindo do banho, ouvi, ao longe, uma voz estridente cantarolando uma música chata e repetitiva. Dizia alguma coisa como “levarei doces para minha avó”, e “o lobo mau mora por aqui”. Pensei: quem deve ser essa bobinha que vem aí cantando essa canção não menos boba?
Para minha surpresa, a cantora era, na realidade, uma menina de doze anos, tão bonitinha quanto desentoada. À mão trazia uma cesta coberta com um pano xadrez e repleta de guloseimas. Sobre a cabeça um capuz lilás, e não vermelho como ainda hoje as pessoas teimam em dizer.
Ao passar por mim a menina, embora tenha me visto, nem me deu bola. Ora, onde já se viu tamanha falta de educação? Pelo visto seus pais além de não tomarem conta dela (pois deixaram ir sozinha até a perigosa Floresta Negra), não souberam ensinar-lhe bons modos.
Mesmo assim resolvi acompanhá-la. E o fiz por dois motivos básicos. Primeiro porque a menina do capuz lilás (ou do chapeuzinho vermelho, como queiram) estava a correr sério risco andando por aquela estrada sem nenhum adulto por perto. A região era conhecida por ser o habitat de animais ferozes, principalmente tigres e rinocerontes.
Segundo, e aqui confesso ter sido esta a principal razão, era que o cheiro que exalava da cesta de guloseimas da mocinha tinha algo fora do comum. Imediatamente pensei no meu filhinho, e o quanto ele adorava bolos, tortas, brigadeiros e congêneres.
Não, de forma alguma pensei em fazer alguma coisa contra aquela criaturinha tão indefesa. Se realmente eu quisesse atentar contra a vida de Chapeuzinho teria feito logo ali, à beira da estrada, e não esperava chegar até a casa de sua avó. Nem tampouco ataquei a pobre velha, muito menos a