Hipocondria
Decio Tenenbaum
Resumo
A partir de uma situação corriqueira da faina diária dos profissionais de saúde, o autor discute a ocorrência de uma das ansiedades mais comuns no trabalho assistencial, a ansiedade de cunho hipocondríaco.
Palavras-chave
Psicologia Médica, Psicossomática, Psicanálise
Inicialmente envolvido com a minha especialização psiquiátrica e, logo depois, com a minha formação psicanalítica, fiquei afastado do trabalho com pacientes somáticos desde o final do meu quinto ano de medicina, até que, em 1988, tive a oportunidade de voltar a trabalhar em um hospital geral. Desde então trabalhei em três hospitais e, nos últimos dois, com pioneiros da Medicina Psicossomática no Brasil: prof. Julio de Mello e prof. Abram
Eksterman, com quem continuo trabalhando no Centro de Medicina Psicossomática e
Psicologia Médica do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Logo que voltei a trabalhar em um hospital geral notei que alguns pacientes mobilizavam muito mais a equipe de saúde e os atendimentos a eles eram sempre mais complicados, embora não necessariamente devido à gravidade de suas doenças. Além disso, a falta de consciência da maioria dos profissionais de saúde em relação às repercussões que suas atuações têm na vida de seus pacientes também me impressionou muito, e continua me impressionando. Quase todos acreditam que o trabalho assistencial se restringe à aplicação de técnicas adequadas, sejam elas médicas, psicológicas, de enfermagem, nutricionais etc.
Com a intenção de trazer à luz minhas reflexões a respeito dessas situações, em 1991 comecei a escrever sobre o dia-a-dia do nosso trabalho. E como o dia-a-dia é feito de coisas muito simples, nada melhor do que a crônica para retratar essa simplicidade do cotidiano.
Escrever essas crônicas foi a melhor forma que encontrei para recuperar as falas dos pacientes e as profundas experiências humanas que os