Hannah Arendt: o filme. (O que quer dizer pensar?)
I.b) Hannah Arendt e o julgamento de Eichmann
A cineasta habilmente inseriu registros documentais sobre o julgamento de Eichmann, e então temos a oportunidade de assistir efetivamente ao ¨fato histórico¨ – real – que se deu nos inícios da década de 60, quando Hannah Arendt – agora representada pela atriz Barbara Sukova – acompanhou esse episódio. Eichmann – ele mesmo – nos é apresentado em uma gaiola, inacessível ao público que assiste ao julgamento. Arendt formula então a tese sobre a banalidade do mal, negando ao nazista o status de “monstro”, afirmando que ele era uma pessoa “normal, um ninguém”. Tese polêmica que gerou um livro muito importante sobre o pensamento político, intitulado Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. A tese foi muito mal recebida à época e, todavia, foi capaz de reformular a compreensão do totalitarismo e da modernidade.
Vamos então à triste figura de Eichmann: encarregado de levar à cabo a ¨solução final¨, era membro da SS e ex-vendedor ambulante e só compreenderemos por que Arendt foi a Jerusalém para ver o ¨mal encarnado¨, Eichmann, se tivermos presente que um dos fios condutores da pensadora é o fenômeno do mal. A indagação política sobre esse fenômeno se iniciou em Origens do Totalitarismoquando, no final do livro, a autora alude ao conceito kantiano de mal radical:¨Pode-se dizer que este mal radical surgiu em relação a um sistema no qual os homens se tornam supérfluos. Os que manipulam esse sistema acreditam na própria superfluidade tanto quanto na de todos os outros, e os assassinos totalitários são os mais perigosos, porque não se importam se estão vivos ou mortos, se jamais viveram ou se nunca nasceram¨[10]. O surgimento dessa nova modalidade de mal tem como meta não o domínio despótico dos homens, mas sim um sistema em que todos os homens sejam supérfluos, isto quer dizer, tornam-se meios. Durante uma aula na New School, no filme, a personagem