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funcionário de moinho, do Friuli que foi preso pela Santa Inquisição por suas ideias
contrárias aos dogmas da Igreja Católica. Graças a ele, também é possível entender
como as pessoas das classes inferiores viam, analisavam e compreendiam as questões
mais polêmicas sobre o funcionamento do mundo. Nosso personagem sabia ler e
escrever, procurava por livros, tentava compreendê-los, elaborava ideias próprias
após terminar as leituras e tentava discuti-las com as pessoas de sua localidade. Ele
se tornou um homem à frente de sua época, pois pensava e questionava livremente
até ser impedido pela censura da época: a Santa Inquisição da Igreja Católica.
Quem esse indivíduo que permaneceu anônimo até o início do processo era,
o que ele lia, como as pessoas de sua localidade lidavam com as ideias dele e quais
as causas para a Inquisição interessar-se tanto por ele representam as questões
descritas, debatidas e analisadas pelo autor com base em documentos processuais da
Cúria Episcopal de Udine, depoimentos escritos, contratos de aluguéis, cartas e
algumas páginas escritas pelo próprio Menocchio.
Inicialmente, Ginzburg apresenta o personagem. Domenico Scandella
popularmente conhecido por Menocchio, morador do Friuli distante vinte e cinco
quilômetros de Pordenone. Ele era moleiro, usava a vestimenta habitual deste
trabalho, mas exercia outras atividades profissionais, casado, pai de sete filho e já
havia sido processado duas vezes pela Inquisição. Disse aos inquisidores, segundo o
depoimento, que era pobre, mas isso não pode ser verídico, pois Menocchio afirmou
ter dois moinhos alugados e dois campos arrendados que proviam as necessidades de
sua família. Ademais, por ser alfabetizado, pôde trabalhar como administrador da
Paróquia de Montereale e antes disso magistrado das aldeias da redondeza, portanto
sua posição social naquela região foi