Hacking, Ian. "Abuso Infantil". In: Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

Hacking, Ian. "Abuso Infantil". In: Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

O autor Ian Hacking, em seu livro Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória, no capítulo 4, associam abuso infantil à multiplicidade. Segundo ele, o trauma fica evidenciado apenas quando a vítima toma consciência do abuso. Esse problema sempre existiu, porém começou a ser relatada em meados dos anos 60, quando normalmente era denominada como “crueldade com crianças”. Até mesmo o papel social das crianças foi reconhecido próximo ao século XVIII e a ideia de infância ainda é algo muito recente. Portanto, isso ocasionou uma transformação do pensamento da sociedade em relação à criança.
O conceito de “abuso infantil” é parecido com conceito de “crueldade com crianças”, porém tem algumas diferenças que o autor destaca que são fundamentais para entender a mudança de uma expressão para outra e as consequências sociais, como a criação de uma sociedade de ajuda às crianças, que até então era dedicada a ajudar os animais. Uma das diferenças é a classe social. Na América do Norte, o abuso infantil não dependia de classe social e que não estava ligada com a pobreza. Já a crueldade com as crianças acontecia basicamente em classes mais baixas. O maior medo na época, segundo o autor, quando relacionado ao abuso infantil, era de que houvesse uma associação dos abusos à família e ao sistema patriarcal, portanto a luta de classes não era levada em consideração. A segunda diferença entre os conceitos está na ligação com o mal. A crueldade com as crianças era algo ruim, cruel, tanto como o maltrato de animais. Já o abuso infantil, principalmente o abuso sexual, é uma das principais preocupações, enquanto a crueldade com crianças era algo ruim, o abuso é um mal por si só. A terceira diferença, segundo o autor, é em relação ao sexo. O abuso infantil, quando incorporado ao abuso sexual teve uma conotação de incesto, portanto horroriza e causa repulsa na