GÊNERO: CONTRADIÇÕES E PROVOCAÇÕES DE UM CONCEITO
Zuleika Câmara2
É interessante pensarmos como a questão teórico-metodológica traz ao centro do debate os diversos campos de estudos das relações de gênero, especificamente a abordagem sobre masculinidades. Para o antropólogo português Miguel Vale de Almeida (1998) devemos tomar cuidado com esta abordagem, pois, segundo ele, não podemos assumir uma atitude de vitimizar os homens, que estão “socialmente no poder”, como também não devemos utilizar a idéia de masculinismo em simetria ao feminismo. O que se destaca nos estudos sobre masculinidade é o sentido que a temática vai propor ao “quadro da teoria social feminista e antropológica em geral”.
Esclareço que em minhas considerações e análises em momento algum pretendo passar a imagem ou representação de que os homens são “coitadinhos” ou colocá-los em posição de “vítimas” uma vez que estão em sua grande maioria no centro do poder e comando. Entretanto, também não almejo deixar a noção ou ideia de que são somente opressores e tiranos. Não obstante aos rótulos, estes estão sujeitos a posições e contextos sociais. Saliento que, assim como eles, as mulheres também estão sujeitas a tais rótulos, evidentemente numa outra dimensão e extensão de vivências, posturas, comportamentos e conjunturas políticas-sociais.
O que gostaria que ficasse claro para o leitor é o fato de que para avançarmos com o debate proposto pelas ciências sociais sobre marcas de gênero e suas relações de poder temos que olhar para a outra categoria das relações sociais (e não somente as mulheres), ou seja, os homens e as masculinidades. Pensando neste sentido Welzer-Lang (2004) argumenta que ao estudarmos os homens e as masculinidades, devemos incluir em nossas análises a concepção dos efeitos das relações sociais nas representações e práticas masculinas, pois a categoria homem só existe como grupo ou camada social em relação estrutural com as mulheres e vice e versa. Welzer-Lang defende a