Guerra de Canudos
“Era 5 de outubro de 1897. A luta armada sustentada pelos bravos habitantes de Canudos durara quase um ano. A ordem do dia do comando da 4ª Expedição dando guerra por concluída, falando em nome dos senhores latifundiários e do seu governo, era obrigada a reconhecer o heroísmo dos sertanejos, ao afirmar: ‘É para lamentar que o inimigo fosse tão valente na defesa de causas tão abomináveis’. As ‘causas abomináveis’, naturalmente eram o rompimento com a ordem semi-feudal, com a brutal exploração do latifúndio e a defesa da própria vida. Canudos era um exemplo perigoso de que não deveria ficar na memória. Exterminados seus habitantes, até o último, deveria ser reduzido a cinzas. Os derradeiros dias de permanência das tropas no longínquo sertão baiano foram dedicados à destruição implacável de casa por casa, desde os alicerces das duas igrejas, já transformadas em escombros pelo canhoneio incessante de meses a fio, até o hospital de sangue dos camponeses. Tudo o que havia resistido ao canhoneio seria arrasado com dinamite e devorado pelo fogo ateado aos casebres, devidamente regados a querosene. A ordem terminante do comando das tropas do governo foi esta: ‘não deixar nem um pau’ que indicasse ter havido ali a concentração de camponeses em revolta contra a opressão e a miséria. Nada que lembrasse uma insurreição de pobres do campo. O castigo deveria ser exemplar para que não se reeditasse rebelião semelhante contra os grandes fazendeiros, ameaçando o monopólio e a ordem constituída sobre ele. (...) Tais são os fatos, geralmente dissimulados por interesses de classe, mostrando que Canudos foi, sob a capa de misticismo religioso em torno do Conselheiro, fundamentalmente uma luta de classes – uma luta aguerrida contra o latifúndio, contra a miséria e a exploração terríveis que o monopólio da terra engrenda e mantém secularmente no Brasil. (...) Cinco ou seis mil famílias, deslocadas da terra por fatores diversos, mas fundamentalmente uma