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Autor: Jerzi Grotowski
Título: Em busca de um Teatro Pobre. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro,
1971. Tradução de Aldomar Conrado.
Não educamos um ator, em nosso teatro, ensinando-lhe alguma coisa: tentamos eliminar a resistência de seu organismo a este processo psíquico. O resultado é a eliminação do lapso de tempo entre impulso interior e reação exterior, de modo que o impulso se torna já uma reação exterior. Impulso e ação são concomitantes: o corpo se desvanece, queima, e o espectador assiste a uma série de impulsos visíveis. Nosso caminho é uma via negativa, não uma coleção de técnicas, e sim erradicação de bloqueios. (p. 3)
O estado necessário da mente é uma disposição passiva a realizar um trabalho ativo, não um estado pelo qual “queremos fazer aquilo”, mas “desistimos de não fazê-lo”. (p. 3)
As formas do comportamento “natural” e comum obscurecem a verdade; compomos um papel como um sistema de símbolos que demonstra o que está por trás da máscara da visão comum: a dialética do comportamento humano. Num momento de um choque psíquico, de um terror mortal, ou de imensa alegria, o homem não se comporta naturalmente. O homem num elevado estado espiritual usa símbolos articulados ritmicamente, começa a dançar, a cantar. O gesto significativo, não o gesto comum, é para nós a unidade elementar da expressão. (p. 4)
A diferença entre o “ator cortesão” e o “ator santo” é a mesma que há entre a perícia de uma cortesã e a atitude de dar e receber que existe no verdadeiro amor: em outras palavras, auto-sacrifício. O fato essencial no segundo caso é a possibilidade de eliminar qualquer elemento perturbador, a fim de poder superar todo limite convencional. No primeiro caso, trata-se do problema da existência do corpo, no outro,
antes, da sua não-existência. A técnica do “ator santo” é uma técnica indutiva (isto é, uma técnica de eliminação), enquanto a do “ator cortesão” é uma técnica dedutiva (isto é, um acúmulo de habilidades). (p. 20)