Gregorio
Jelu, vós sois rainha das Mulatas,
E sobretudo sois Deusa das putas,
Tendes o mando sobre as dissolutas,
Que moram na quitanda dessas Gatas.
Tendes muito distantes as Sapatas,
Por poupar de razões, e de disputas,
Porque são umas putas absolutas,
Presumidas, faceiras, pataratas.
Mas sendo vós Mulata tão airosa
Tão linda, tão galharda, e folgazona,
Tendes um mal, que sois mui cagarrosa.
Pois perante a mais ínclita persona
Desenrolando a tripa revoltosa,
O que branca ganhais, perdeis cagona.
Observa-se, por exemplo, que as materialidades ora estudadas falam a partir de uma formação discursiva pautada em um saber segundo o qual a questão sexual não representa possibilidade de interação entre duas pessoas, mas sim se trata de uma forma de aliviar uma necessidade - como qualquer atividade fisiológica - premente nos homens, porque as mulheres que são honestas não têm tais necessidades. Na sociedade baiana do século XVII, que está hierarquizada segundo a teleologia cristã, tem-se, pois, um sujeito homem que vive dividido entre esses dois sujeitos mulher: a) Ao se vincularem as palavras mulata, crioula, negra e preta a traços como feiticeira (fragmento 5), puta (fragmentos 4 e 5), dissoluta (fragmento 4) , ao mesmo tempo em que as distanciam de traços como discrição (fragmento 6), vê-se delineado o imaginário social da sociedade seiscentista brasileira em relação a essa mulher. Tem-se um sujeito que fala a partir de uma formação discursiva respaldada em um saber segundo o qual a religião católica aproxima os homens de Deus, já as outras práticas religiosas estariam ligadas à feitiçaria e ao demônio. A imagem da mulher não católica como feiticeira, por exemplo, está ancorada na memória discursiva. Além do mais, retoma-se aí a figura de Eva, sendo a mulher representada como a que seduz, que conduz ao caminho do pecado, já que acena com os prazeres da carne.b) Por outro lado, tem-se esse sujeito homem que está entre o pecado