Graus de relacionamento
Ricardo Azevedo
Falar da relação entre textos escritos e imagens dentro de livros é sempre um desafio. Existem muitos e diferentes tipos de texto e muitos e diferentes tipos de imagem e essa multiplicidade torna as coisas bastante complexas.
Diferenciar textos literários criados a partir de preocupações estéticas de, por exemplo, textos jornalísticos, informativos ou publicitários nunca foi tarefa fácil.
O mesmo ocorre com o discurso visual. Quando uma pintura é imagem publicitária, ilustração ficcional, ilustração informativa ou pintura convencional?
As perguntas são inúmeras: existe algum fator que realmente caracterize a literatura – algo como uma “literariedade” ? Ou seria o leitor quem de fato determina se o que está lendo é literatura, informação, filosofia, religião, ciência ou qualquer outra coisa? Há algum elemento que nos assegure que tal desenho seja arte? O que é exatamente arte? O que é exatamente literatura? Por que razão o homem faz arte e literatura?
Para manter a discussão no âmbito da relação do texto com a imagem, se partirmos do princípio de que determinado texto é literário – por ser construído a partir da ficção e da linguagem poética – como lidar com o fato de que esse mesmo texto pode ser ilustrado, de forma coerente e satisfatória, por diferentes artistas através de diferentes concepções estéticas por vezes até antagônicas?
Como lidar com o fato de que, em níveis diferentes, toda a ilustração é sempre uma interferência que pode alterar, por vezes dramaticamente, o universo significativo do texto?
Considerando isso, como determinar a “autoria” de um texto escrito e ilustrado? Se há casos em que aparentemente não há motivo para dúvidas, o que fazer com as outras inúmeras situações em que texto e imagem dialogam de forma inseparável, situações que, diga-se de passagem, nem de longe podem ser consideradas casos excepcionais?
O que afinal significa “