Gradiva
Um jovem arqueólogo, Norbert Hanold, descobrira, num museu de antiguidades em Roma, um relevo que o atraíra muito, tendo conseguido do mesmo uma cópia de gesso que colocou em seu gabinete de trabalho, numa cidade universitária da Alemanha, para admirá-la com vagar. A escultura representava uma jovem adulta, cujas vestes esvoaçantes revelavam os pés calçados com leves sandálias, surpreendida ao caminhar. Um dos pés repousava no solo, enquanto o outro, já flexionado para o próximo passo, apoiava-se somente na ponta dos dedos, estando a planta e o calcanhar perpendiculares ao chão. Possivelmente foi esse modo de andar incomum e particularmente gracioso que atraiu a atenção do escultor e que, tantos séculos depois, seduziu seu admirador arqueólogo.
O jovem arqueólogo chamou-a de Gradiva, “a jovem que avança”. Imaginou-a filha de uma família nobre, de um patrício a serviço de Ceres (deusa do lar, do casamento e da agricultura), e pensou que ela estava a caminho do templo da deusa. Sua natureza tranqüila e serena não combinava com a vida agitada das cidades grandes, então ele imaginou-a vivendo em Pompéia. Percebeu em sua fisionomia traços gregos e imaginou-a de origem helênica.
Hanold colocou seus conhecimentos arqueólogicos a serviço desta e de outras fantasias relativas ao modelo da escultura.
Daí partiu para pensar se aquele modo de pisar seria encontrável na realidade e passou a observar a vida (grifo meu).
Isso o levou, contrariando seus hábitos, a observar as mulheres e seu tipo de andar. Até então ele só considerava o sexo feminino em mármore ou bronze e nunca prestara a menor atenção em suas representantes contemporâneas.
Sua pesquisa levou-o a concluir que o modo de andar da Gradiva não era encontrável na realidade. Jensen relata então uma série de sonhos de Hanold.
1º sonho: encontrava-se na antiga Pompéia, vendo a destruição do Vesúvio. Nisso vê Gradiva a pequena distância e quer avisá-la do perigo, mas