Gomorra
Gomorra fez muito barulho quando foi lançado – tanto na Itália, em 2006, quanto no Brasil de 2008.
Com razão. Seu autor – o jornalista Roberto Saviano – foi assombrosamente corajoso ao se infiltrar na Máfia napolitana para conhecer seu funcionamento e denunciá-lo.
Saviano pagou preço alto: hoje vive escondido e sob contínua proteção policial. Jurado de morte, tornou-se celebridade internacional e vendeu os direitos de filmagem do livro. O filme também fez carreira de sucesso e chegou ao Brasil junto com o livro.
O que o livro conta é mesmo impressionante, apesar da narrativa entrecortada e da tradução irregular. Apesar de o leitor ficar em dúvida quanto à efetiva posição de Saviano dentro da organização criminosa e perceber que a maior parte das informações que oferece vem de documentos oficiais que, em tese, são acessíveis ao público.
Através deles, Saviano mostra um mundo guiado a partir de escritórios sombrios de Nápoles. Aparentemente tudo tem o dedo dos mafiosos: da alta moda ao mundo do cinema, do mercado financeiro à produção industrial, da circulação de muambas ao tráfico de drogas e armas, dos negócios legais aos mais-ou-menos legais e aos totalmente ilegais.
A Camorra também é onipresente: está na Escócia, na França, nos Estados Unidos, na China, no Brasil. Tem ou teve vínculos comprovados com as FARC colombianas, com o ETA basco, com o MRTA peruano, com os artífices da guerra na Somália e com os militares argentinos que tentaram ocupar as Malvinas.
A Máfia despreza as barreiras ideológicas da mesma forma que desconsidera as fronteiras da legalidade. Coopta todos – ou quase todos – que lhe interessam: juízes, políticos, religiosos, jogadores de futebol, estilistas. Impõe um vertiginoso consumo de armas para sua Itália, que chega a ser inacreditável pelo volume. Repatria corpos de imigrantes ilegais e prepara festas regadas a incríveis combinações de drogas – o Maradona dos tempos do Napoli que