GOLDENBERG - O corpo como capital: para compreender a cultura brasileira -
Na década de 1980, o antropólogo Gilberto Freyre, de forma pioneira, buscou pensar o corpo da mulher brasileira e suas transformações em seu livro “Modos de Homem, modas de mulher” (1987). Freyre apontava como modelo de beleza da brasileira a atriz Sônia Braga: baixa, pele morena, cabelos negros, longos e crespos, cintura fina, bunda grande, peitos pequenos. E afirmava que esse modelo de corpo e beleza brasileiros estavam sofrendo um “impacto norte-europeizante, “albinizante”, ou ainda “ianque”, com o sucesso de belas mulheres como Vera Fischer: alta, branca, loira, cabelos lisos, com um corpo menos arredondado.
Esse novo corpo da mulher brasileira, imitação de modelos estrangeiros, que passou a se impor como modelo de beleza ganhou muito mais força nas últimas décadas. Além de Vera Fischer, que permanece um ideal de beleza, Xuxa e, posteriormente, Giselle Bündchen tornaram-se modelos a serem imitados pelas brasileiras.
Freyre enaltecia o corpo da mulher brasileira, “miscigenado” e propunha uma “consciência brasileira”, dizendo que a brasileira deveria seguir modas adaptadas ao clima tropical, em vez de “seguir passivamente e, por vezes, grotescamente, modas de todo européias ou norte-americanas”. Freyre sugeria que as modas e os modismos não diziam respeito apenas às roupas ou penteados, mas também poderiam se tornar modas de pensar, de sentir, de crer, de imaginar, e assim, subjetivas, influírem sobre as demais modas.
Gilberto Freyre, duas décadas atrás, admitia que várias novidades no setor de modas de mulher tendem a corresponder a “esse desejo da parte das senhoras menos jovens: o de rejuvenescerem”e mostrou que as modas surgem visando uma preocupação central da mulher brasileira: permanecer jovens. Nestas últimas décadas esta preocupação cresceu enormemente, com novos modelos de mulher a