Gloria fuertes
VACA GORDA: Vem para aqui Paca magra, que neste prado frondoso há pasto alto e suculento.
VACA MAGRA: E para que?
VACA GORDA: Para pôr-te gorda, lustrosa, formosa e para seres «a favorita» do dono.
VACA MAGRA: O dono é estrávico do olho direito.
VACA GORDA: Que chata que tu és, irmã Paca. Antipática como tu, só do rabo aos cornos... Vem para o ribeiro, há lá sombra.
VACA MAGRA: E o que é uma sombra? (Perguntou a vaca «chateada»).
VACA GORDA: Sombra é quando está sol, mas algo tapa-o e fica escuro.
VACA MAGRA: O quê? Que aborrecido!
VACA GORDA: Tens o lombo e os olhos cheios de moscas.
VACA MAGRA: E daí? Que mal tem?
VACA GORDA: É que não serves nem para espantar as moscas com o rabo?
VACA MAGRA: Para quê?
VACA GORDA: Mana vaca, deram-te olhos de vaca, mas olhos de uma vaca muito triste! És a vaca mais tristonha do prado.
VACA MAGRA: E daí?
VACA GORDA: Olha as papoilas! Come papoilas! Gosto muito de papoilas porque são muito boas para o leite.
VACA MAGRA: E então?
VACA GORDA: Ai, vaca, não há quem te aguente, és mais triste do que uma lesma. Vou contar à dona. A quanto tempo nao te tiram o leite?
VACA MAGRA: Não me lembro.
VACA GORDA: Então já sei o que se passa contigo: Como não comes e não apanhas sol, não tens leite.
VACA MAGRA: E tu és como uma vaca suíça, que só sabe comer e engordar.
VACA GORDA: Bons queijos dou ao fim do mês, e tu que dás?
VACA MAGRA: Eu que dou? Isso não importa!
(A VACA GORDA se voltou a encontrar com a VACA MAGRA ao entardecer, estava deitada no chão como sempre).
VACA GORDA: Estas a ruminar vaca Paca?
VACA MAGRA: Não, estou a pensar. As vacas como eu estam sempre a pensar.
VACA GORDA: Mas por todos os cornos! Em que estas a pensar?
VACA MAGRA: Estou a pensar que no final, serei um milhão e duzentos mil