Glauber, leitor de guimarães rosa
Introdução O objetivo deste trabalho é apresentar como a idéia da coexistência de elementos mutuamente excludentes, da forma como nos é apresentada através das palestras de Wolfgang Iser por ocasião do VII Colóquio UERJ[1], se encontra presente, tanto em Grande sertão: veredas (1956) [2] de João Guimarães Rosa, como também é utilizada por Glauber Rocha em seu longa metragem Deus e o diabo na terra do sol (1964)[3]. Para isto, inicialmente traçamos uma ligeira revisão da teoria iseriana desde o aparecimento da teoria dos efeitos (reader-response criticism), que enfoca a assimetria entre texto e leitor, até o conceito de antropologia literária, que trata da interação entre o fictício e o imaginário. É importante notar, que mais do que trabalhar na interpretação destas duas obras de arte, procuramos aplicar a teoria de Iser como uma explicação para o fenômeno da coexistência de elementos mutuamente exclusivos, pois como o próprio Iser afirma: “É importante notar que tanto as teorias do efeito estético e a antropologia literária são basicamente constructos, ora, constructos não são necessariamente descrições de ocorrências empíricas”. (ISER in ROCHA, 1999, p. 47) Iser mostra, no percurso da sua obra, toda a sua orientação teórica heurística, mantendo um certo afastamento de instrumentos interpretativos, através dos quais diferentes estruturas de constituição de sentido são examinadas e, logo, decodificadas, ou seja, com o analista se obrigando a fornecer uma interpretação para um determinado texto.Dessa forma, a teoria de Iser está muito mais voltada para pressupostos heurísticos capazes de descrever qualquer gênero de produção de sentido, ou seja, para investigar as condições mais gerais ( e portanto mais abstratas) que possibilitam o próprio ato