Getúlio e a seca
Frederico de Castro Neves
Universidade Federal do Ceará
RESUMO
ABSTRACT
Este artigo procura analisar as relações entre o Estado e os retirantes das secas de
1932 e 1942, durante o período de Getúlio
Vargas como presidente. As intervenções realizadas para estabelecer um controle episódico sobre essa população migrante, que invadia e saqueava cidades e armazéns, podem abrir janelas de compreensão bastante amplas para examinar os mecanismos de constituição do poder de Vargas e a permanência do “trabalhismo” no Brasil, assim como as relações entre os modelos liberal e paternalista de política.
Palavras-chave: seca; migrantes; controle social. This article aims the analysis of the relationship between State and the “retirantes” of the 1932 and 1942 dry seasons, during the government of the President
Getúlio Vargas. The State actions tried to control this migrating population, which invades and plunders cities and food stores. This analysis can open such a useful window to see the mechanisms that constitute Vargas power and the “trabalhismo” in Brazil, as well as the relations between paternalistic and liberal models of politics. Keywords: drought; migrants; social control.
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 21, nº 40, p. 107-131. 2001
108
De modo geral, as análises sobre a “era Vargas” enfatizam, por um lado, os aspectos de repressão e de manipulação do movimento operário e, por outro, as características “paternalistas” de construção de um mito de “pai dos pobres” através de concessões e benefícios. No entanto, uma série significativa de trabalhos vem se direcionando para a conclusão de que a “era Vargas” se constitui num momento em que tais elementos – violência e manipulação, concessões e benefícios – se combinaram na construção de uma imagem do “trabalhismo” como expressão idônea de uma nação pacificada, unificada e corporativa. Buscando esclarecer as