Gestão
Simon Schwartzman
A educação no Brasil mudou bastante nos últimos anos, mas ainda está longe de ser satisfatória. Neste texto introdutório, apresentamos uma visão ampla das origens do ensino brasileiro e, a partir daí, tentamos identificar algumas de suas características fundamentais. Assim, poderemos compreender melhor as condições vigentes e abrir caminho para a discussão de algumas das políticas públicas que estão em teste ou já disponíveis. As questões do ensino são sempre polêmicas e o objetivo deste trabalho é aprimorar e esclarecer alguns dos temas em debate. Os temas centrais Até bem pouco tempo atrás, parecia existir consenso quanto ao fato de que os problemas do ensino brasileiro eram a falta de escolas, a evasão escolar de muitas crianças em idade precoce e a carência de verbas governamentais para a educação. Considerava-se necessário construir mais escolas, pagar melhores salários aos professores e convencer as famílias a mandarem seus filhos à escola. Foram precisos alguns anos para convencer políticos e a opinião pública de que, na verdade, não são significativas as quantidades de crianças que abandonam a escola antes dos 15 anos de idade. Os problemas principais eram qualidade e repetência, ou seja, a tradição de manter na escola os alunos que não se saíam conforme o esperado nas provas, prática amplamente disseminada no Brasil (Fletcher, 1984; Klein & Ribeiro, 1991). Com a diminuição da expansão demográfica e da migração interna na década de 1980, o país começou a enfrentar pela primeira vez problemas de salas de aula vazias. Há hoje 43,8 milhões de
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OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO
BRASIL
alunos matriculados no ensino básico1, para uma população total de 36,5 milhões na faixa etária de sete a 17 anos, um injustificado excedente de mais de sete milhões de vagas.2
Figura 1 – Matrícula em escola ou creche por idade e gênero, 2002
25 22 19
Idade
16 13 10 7 4 1 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100