Georges Canguilhem. O Normal e o Patológico. Capítulo IV: Doença, Cura e Saúde.
Thiago H. Costa do Nascimento
O estado patológico e a experiência vital
Neste capítulo Canguilhem retoma a discussão, presente em todo o seu livro, sobre a patologia. Como ele mesmo explicou em passagens anteriores, é comum reconhecermos a existência de patologias biológicas, mas não de patologia físicas, químicas, etc. Em todas essas ciências a ideia de que as leis podem sofrer desvios, distúrbios, quedas, enfim, que todas podem adoecer, é absolutamente repelida. E que característica poderiam os fenômenos da vida possuir a fim de que possam passar incólumes por essa primeira dificuldade? O próprio Canguilhem nos responde: a vida não é indiferente à condições que lhe são impostas. A vida é aquilo que ele conceitua como polaridade dinâmica. Longe de fazer apologia pelo irracionalismo, ou mesmo pelo indeterminismo, Canguilhem não busca com isso enfatizar o pretenso fato de que os fenômenos vitais estão impunes às leis naturais. Pelo contrário, ele busca mostrar que ao serem todas as formas de vida como deveriam ser, estão as “leis vitais” se expressando em seu movimento. Mas que significariam ai portanto “leis vitais”? Um conjunto de funções, atitudes, regulações, vontades, que permitem aos viventes reagir às demais leis naturais, como as da física e da química. Ao contrário, de outras entidades, os organismos vivos se caracterizariam por não apenas sofrer as consequências dessas leis naturais, mas de elaborar verdadeiras estratégias de dominação de relação com elas. O estado patológico está, assim, inserido no campo das reações que os viventes elaboram diante de oscilações ou obstáculos impostos pelo meio. Canguilhem, após a discussão em capítulos anteriores sobre a diferença entre normal, anomalia e doença, inicia o Capítulo IV retomando que, ao contrário da anomalia – que consiste num desvio estatístico, uma variedade – a patologia ou anormalidade representa um valor