Geografia política e geopolítica: determinismo e possibilismo?*
José William Vesentini
"A política de um Estado está na sua geografia", afirmou Napoleão Bonaparte com base na sua leitura de Montesquieu e na experiência como militar. Esta sucinta e polêmica frase de uma certa maneira sintetiza a questão sugerida no tema desta prova, que à primeira vista é simples, mas que, na realidade, embaralha ou emaranha duas renitentes problemáticas da história da geografia: as (possíveis) diferenças entre geografia política e geopolítica e a (pretensa) oposição entre uma abordagem determinista e uma outra possibilita.
Como desfazer ou esmiuçar esse imbróglio?
Pensamos ser imprescindível retomar brevemente as origens e a evolução da geografia política e da geopolítica, que em vários momentos se imbricaram ou se identificaram, e, em outras ocasiões, e apartaram de forma conflituosa. E também recordar o porquê dessa distinção entre determinismo e possibilismo, que por sinal foi iniciada a partir de uma determinada leitura – francesa – da obra do iniciador ou sistematizador da geografia política moderna, Friedrich Ratzel. Em seguida iremos avaliar em que medida essa distinção e esses rótulos ainda são válidos para a geopolítica e as suas relações ou identificações com a geografia política.
Sabemos que o estudo geográfico da política foi redefinido ou reestruturado por Ratzel em 1897. Ao escrever e publicar a obra Politische Geographie [Geografia política], Ratzel, que evidentemente não foi pioneiro no uso desse rótulo, sistematizou uma leitura espacial da política e ao mesmo tempo reformulou a maneira pela qual a ciência geográfica abordava o fenômeno político. Foi justamente esse escrito de Ratzel que suscitou uma forte reação francesa, que pouco a pouco construiu um inimigo teórico, a "escola geográfica determinista germânica", que teria em Ratzel o seu mentor. Tanto o sociólogo Émile Durkheim, in L’Année sociologique de 1898, quanto o historiador-geógrafo Paul Vidal