Genética, biologia molecular e ética: as relações trabalho e saúde*
Resumo O artigo discute o impacto dos avan- ços da genética e da biologia molecular sobre a prática em saúde ocupacional. O conhecimento atual sobre o genoma humano permite, em certas circunstâncias, identificar fatores individuais de suscetibilidade a doenças em situações de exposição a substâncias químicas ou físicas, ou ainda, a doenças genéticas de manifestação tardia. Estudos epidemiológicos incorporando elementos da genética e da biologia molecular têm sido desenhados para avaliar a interação de variantes metabólicas e exposi- ções ambientais no risco de ocorrência de diferentes doenças. Apesar desta perspectiva, considera-se que as pesquisas nesta área são ainda incipientes. A estratégia para a redução dos danos causados à saúde do trabalhador deve continuar a ter como base, prioritariamente, a modificação e a adequação dos ambientes de trabalho e não a especificação genética da for- ça de trabalho. Introduzir a discussão sobre a necessidade de definir princípios de responsabilidade social no uso de informações genéticas e que possam reger ações éticas em saúde do trabalhador é uma das propostas principais deste artigo.
Palavras-chave Genética molecular, Saúde do trabalhador, Ética, Rastreamento genético,
Epidemiologia genética
Introdução
De acordo com a legislação trabalhista, empregadores podem selecionar seus empregados com base no grau de instrução e na experiência profissional anterior, mas não podem usar como critério de seleção condições específicas como idade, sexo, cor de pele e origem étnica. Atualmente, informações sobre o perfil genético de candidatos a emprego têm sido incluídas em processos seletivos. Nos Estados
Unidos, estudos recentes estimaram que cerca de 7% das empresas americanas já fazem uso do screening genético na seleção de seus trabalhadores (Austin et al., 2000). O número de informações genéticas tende a aumentar