Gastronomia
APRESENTAÇÃO Neste trabalho, procuramos examinar a hipótese de que a extrema mobilidade geográfica, representada pela interminável saga das migrações internas brasileiras, é responsável pela veiculação de valores e hábitos culturais em geral, e alimentares em particular, capazes de moldar a própria construção de uma cultura brasileira e uma identidade culinária nacional Consideramos também, além disso, que a “mélange” de características culturais materiais ocorrente em nossa história tende a se constituir no próprio centro da nossa identidade nacional, acima das fortes particularidades regionais de nossa formação. Mais ainda, esses raciocínios tendem a apontar os grandes centros urbanos/metropolitanos, como São Paulo, centros também de migrações e de misturas de etnias, como “locus” de sínteses culturais surpreendentes, capazes de revelar a formação das características identitárias do “brasileiro” em geral, e em particular de sua gastronomia.
PALAVRAS-CHAVE Gastronomia no Brasil; culinária brasileira; migrações internas; mistura de culturas; regionalismo.
MOBILIDADE, IDENTIDADE E GASTRONOMIA Ricardo Maranhão
“Sou famanaz Viramundo Do sertão de Pernambuco Tudo faço e tudo avio” (Capinam e Caetano Veloso, música do filme Viramundo) O brasileiro é um Viramundo. A expressão se refere originalmente à entidade da religião de Umbanda, na sua versão carioca, o cabloclo Viramundo que tudo soluciona e sai pelo mundo resolvendo. O cineasta Geraldo Sarno fez nos anos sessenta um belo filme com esse nome, sobre a migração dos camponeses do semi-árido do Nordeste para os grandes centros urbanos. A saga dessas migrações deu assuntos, fios e cores para o tecido de muitos trabalhos de qualidade na literatura e nas artes. Desde romances como