Gases
A fantasia
Para dourar a existência
Deus nos deu a fantasia;
Quadro vivo, que nos fala,
D'alma profunda harmonia.
Como um suave perfume,
Que com tudo se mistura;
Como o sol que flores cria,
E enche de vida a natura.
Como a lâmpada do templo
Nas trevas sozinha vela,
Mas se volta a luz do dia
Não se apaga, e sempre é bela.
Dos pais, do amigo na ausência,
Ela conserva a lembrança,
Aviva passados gozos,
E em nós desperta a esperança.
Por ela sonho acordado,
Subo ao céu, mil mundos gero;
Por ela às vezes dormindo
Mais feliz me considero.
Por ela, meu caro Lima,
Viverás sempre comigo;
Por ela sempre a teu lado
Estará o teu amigo.
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A infância
Oh minha infância! Oh estação de flores!
De inocente ilusão alva saudosa!
Inda hoje te apresentas
Ante mim, como a imagem deleitosa
De um sonho que encantou-me a fantasia,
Ou como a aurora de um formoso dia.
Oh da infância atrativos lisonjeiros!
Mentirosos afetos!
Com que prazer amigos passageiros,
Inúmeros, na infância contraímos!
E quão fáceis após os repelimos,
De ligeiras palavras agastados.
Oh como é lindo
O tenro arbusto
Na primavera!
Como parece
Que se está rindo,
Quando o balança
Zéfiro brando;
Quando descansa
Sobre os seus ramos
O passarinho,
E modulando
Doces reclamos,
Vai o ar vizinho
Harmonizando!
Como é belo esmaltado de flores,
Exalando balsâmico aroma;
D'ele em torno voltejam amores,
E se escondem debaixo da coma.
Mas eis que o adusto
Vento do norte,
Soprando forte,
Já o abala;
O tenro arbusto
Neste tormento
Todo se dobra;
A verde gala
Amarelece;
E o duro vento,
Que em fúria cresce,
Vai arrancando
Folha por folha,
E sobre a terra
Secas lançando;
Té que despido
O deixa enfim.
O tempo assim
Nos vai roubando
Gratos prazeres
Da tenra idade,
Quantos amigos
A infância tem;
Até que vem
A puberdade
Com seus perigos;
E desta