Games
Fissura de viciado por jogo é pior do que a de alcoólatra
12/09/2005
"No começo, era só adrenalina e vontade de ganhar dinheiro. Depois, era adrenalina e vontade de recuperar o dinheiro. Aí, você se afunda mais e mais." Tiago, nome fictício, de 30 anos, descreve as sensações de quem pulou de jogador ocasional para compulsivo. Recém-separado, ele buscou satisfação em casas de bingo, primeiro na hora do almoço, depois por dias seguidos, até gastar mais dinheiro do que ganhava. Foram cinco anos de vício e muitas dívidas. Tão ruim quanto a compulsão foi o caminho da saída. "Era muita agonia, depressão. Por um lado, sentia a felicidade de não jogar todo dia. Por outro, era um baque."
Esse baque, ou fissura, a vontade incontrolável de voltar para o jogo a qualquer preço - muitas vezes, o custo é a própria vida do viciado -, foi medido pelo pesquisador brasileiro Hermano Tavares. O resultado assusta. A aflição do jogador compulsivo é maior do que a do alcoólatra, apesar de este vício ser químico e aquele não. Para Tavares, é evidência do pouco que se sabe sobre a doença e um alerta de que médicos, parentes e governo precisam estar atentos. "Vamos levar a sério o problema do jogo. É uma dependência não química, então algumas estratégias usadas para tratar o vício pelo álcool podem ser usadas para tratar jogadores - mas não todas", diz o médico, coordenador do Ambulatório do Jogo Compulsivo (Amjo) no Hospital das Clínicas de São Paulo.
O estudo foi realizado no Canadá, na Universidade de Calgary, como parte do pós-doutorado obtido por Tavares. Ele comparou o nível de fissura de dois grupos medido por um questionário padrão. De 90 pontos (que significa uma recaída), alcoólatras marcaram em média 35 e jogadores, 49, nos primeiros 20 dias de terapia. Os resultados foram publicados em agosto na revista especializada Alcoholism: Clinical & Experimental Research. Uma das explicações para a diferença parece estar no perfil de personalidade do