Fé em Deus, dj”: o pentecostalismo e o funk entre os jovens das camadas populares
Universidade Federal do Espírito Santo
GT10: Antropologia Urbana
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Resumo A intenção deste texto é analisar o peculiar trânsito efetuado por jovens das camadas populares que, negociando entre visões de mundo radicalmente opostas, transitam entre o aparente hedonismo do mundo do funk e o suposto ascetismo pentecostal, revelando uma nova forma de crer e de praticar uma religiosidade profundamente singular e individualizada.
Como base empírica, apresenta-se duas trajetórias de jovens que, com relativa naturalidade, freqüentam assiduamente dois espaços aparentemente díspares: o baile funk e o culto pentecostal. Palavras-chave Pentecostalismo, juventude, sociedades complexas
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1. Introdução
Aos 18 anos, o garçom Uigly -morador da um bairro da periferia3 de Vitória - dedica seus sábados ao lazer. Costuma frequentar clubes famosos pela realização de bailes funk e se identifica com o estilo “funkeiro”, não apenas quanto ao gosto musical, mas também quanto ao corte de cabelo e às roupas. Aos domingos, Uigly participa dos cultos da “Assembléia de
Deus”, localizada em seu bairro. Afirma gostar das pregações, de ouvir “a palavra”. Destaca também o prazer das amizades firmadas no contexto da igreja. Espera se batizar um dia, mas, por ora, prefere não aderir formalmente à denominação religiosa4
O exemplo de Uigly é emblemático e, para mim, surpreendente. Demonstrando peculiar desenvoltura, o jovem transita, vivencia e apreende duas visões de mundo de aparência antagônica: o funk, supostamente dotado de um caráter catártico e hedonista (DAYRELL,
2005, VIANNA, 1990), e o pentecostalismo, marcado, a princípio, por uma moral ascética e sectária (MARIANO, 2008).
O caso de Uigy não é único. No decorrer da minha pesquisa para dissertação